terça-feira, 29 de julho de 2008

A História do Bill Gates





O desafio estava lançado: quadruplicar a base de clientes que usavam o homebanking (fazer transações bancárias através de microcomputador PC), saindo de uma base de 24 mil clientes para 100 mil, em um ano! Desde então, minha cabeça estava à mil pensando em como fazer algo realmente inovador que pudesse fazer a grande diferença. Mas havia um grande obstáculo.

As pesquisas de mercado indicavam que a penetração de microcomputadores (PCs) no Brasil era muito baixa. Como nossos clientes iriam acessar as suas contas para fazer as transações bancárias, se eles sequer tinham PCs? Era pergunta que não queria calar. Percebemos também que ter um PC era o sonho de consumo dos brasileiros. Foi quando numa das reuniões com a minha excelente equipe, da qual tenho o maior orgulho até hoje, surgiu a idéia:
- porque não oferecemos e financiamos os PCs para os nossos clientes? - Havia aí um genuíno desejo nosso de beneficiar o maior número de pessoas, oferecendo o melhor conjunto de PC, software, garantia e financiamento, a um preço extremamente interessante aos nossos clientes. Foi quando montamos uma operação de guerra para viabilizar um grandioso projeto, inédito no mercado mundial. Foram inúmeras reuniões, negociações, envolvimento de um enorme número de pessoas do banco e dos nossos parceiros. O entusiasmo tomou conta de todos. Não queríamos fazer mais um simples projeto. Queríamos fazer algo realmente grandioso que fizesse diferença não só para o banco, mas para todo o mercado.

Fechamos uma parceria estratégica com a IBM e a Microsoft para oferecer um pacote especial para nossos clientes. Tratávamos este pacote como um verdadeiro presente aos nossos clientes. Tínhamos o desejo sincero de fazer feliz o maior número de clientes. Com este espírito o projeto foi tomando forma. Durante as minhas meditações diárias sempre pedia a Deus bastante sabedoria e força para levar avante nosso sonho e agradecia a todas as pessoas, coisas e fatos. Quanto mais eu agradecia, mais colaboradores e boas idéias surgiam como num passe de mágica. Foi quando sugiu a idéia, numa de nossas reuniões de convidar o próprio Bill Gates para participar do projeto. Com a ajuda do Mauro Muratório e Jorge Sales, respectivamente presidente e diretor da Microsoft do Brasil, conseguiram marcar um encontro com Bill Gates, durante um grande evento da Microsoft, em Miami Beach. Ao saber que eu estava articulando encontrar com o Bill Gates, teve um executivo do banco que me disse:
- Milton, se você pretende ver o Bill Gates, sugiro levar um binóculos para vê-lo de uns 200 metros de distância.
- Acho que você está sonhando! - completou ele.
Aquela provocação que recebi serviu muito mais de estímulo do que de desânimo, pois senti muito desafiado. Conforme planejado, pude tomar café com o próprio Bill Gates para apresentar o nosso projeto e convidá-lo a participar pessoalmente de um comercial. Ele ficou bastante interessado e prometeu apoio ao projeto. Foi então que percebi o quanto o entusiasmo e o desejo sincero de beneficiar grande número de pessoas pode suplantar os mais difíceis obstáculos e atrair pessoas para ajudar a concretizar o projeto.

Entre uma boa conversa e a materialização das idéias, sobretudo no mundo corporativo, onde existem inúmeros fatores, muito dos quais, imponderáveis, leva-se tempo e requer muito foco, dedicação e persistência. Ainda que Bill Gates tenha simpatizado com o projeto, sua assessoria que cuida da sua imagem pública, apresentou inúmeros obstáculos para que ele participasse de um comercial. Afinal, um banco médio, num país chamado Brasil, que representava menos de 3% dos negócios da Microsoft, estava pedindo para o homem mais rico do mundo gravar um comercial. Parecia muito pretensioso e ousado, mas não impossível. Por outro lado, a IBM outra parceira tinha restrições ao Bill Gates de participar do comercial, associando as marcas, porque consideravam que eram concorrentes na área de software para PCs. A IBM tinha ainda, naquela época, o OS/2 que concorria com o MS/Windows. Ou seja, tínhamos todos os motivos do mundo para justificar a não-realização de tamanho sonho. Afinal, a vida oferece o tempo todo e em todo lugar, motivos para justificar o insucesso. Mas, não poderíamos cair nesta armadilha da vida para comodamente pegar algum pretexto para justificar a não-realização de um grandioso projeto.

Depois de intensos trabalhos estávamos prontos para gravar o comercial com o Bil Gates no Hotel Sheraton Ball Harbor, Miami Beach, EUA. Transformamos a suite presidencial do hotel num studio. Toda a equipe de produção estava a postos: a maquiadora, o iluminador, o camera man, o diretor de filmagens, os assistentes e eu. O diretor de produção estava confiante e disse: - Está tudo pronto! É só ele (Bill Gates) chegar e começamos a gravar. Já verifiquei com a assistente do Bill Gates a sua estatura, já fixei a câmera e aí, é só gravar. Inclusive, não dá nem para mexer mais.
Já passava das 17 horas, horário combinado para o Bill Gates fazer a gravação, mas ele não apareceu. O tempo passava: 17:15 h., 17:30h., 18:00 h. e nada.... Sabíamos também que às 19 horas ele teria que fazer a abertura do grande evento da noite. Foi quando recebemos a informação da assessoria dele que provavelmente ele não viria, pois ainda estava numa coletiva de imprensa com jornalistas de todo o mundo comentando sobre a tentativa de aquisição por US$ 3,5 bilhões de uma empresa concorrente que estava sendo bloqueada pelo governo norte-americano baseada na lei anti-truste.
Parecia que depois de “nadar tanto”, iríamos morrer afogados na praia. Naquele momento, quando tudo parecia perdido, a única coisa que restou para mim foi rezar. Isso mesmo. Rezar. Comecei a ler a Sutra Sagrada como a única coisa que poderia ser feita naquele momento. Foi quando um filme de todo o projeto passou pela minha cabeça e, de repente, uma grande serenidade tomou conta do meu ser. Afinal, tínhamos feito de tudo.

De repente, eis quem surge na porta. O Bill Gates e toda a sua comitiva. Foi o maior corre-corre. A maquiadora já nem sabia mais onde estava o pancake. Cumprimentamo-nos rapidamente e imediatamente começamos os trabalhos. Restava apenas 30 minutos para fazer um comercial que normalmente leva-se 1 hora e meia com atores profissionais. Quando as câmeras foram ligadas e o Bill Gates sentou na cadeira para as filmagens, o diretor de produção e colocou a mão na cabeça e exclamou:
- Meu Deus, ele está totalmente fora de quadro. É mais baixo que imaginei! E, agora, não consigo mais mexer nas câmeras, pois estão fixadas!
Naquele momento quando o pânico começou a tomar conta da turma, vimos uma lista telefônica ao lado de um aparelho de telefone. Pedimos licença ao Bill Gates e pedimos licença para ele sentar sobre a lista telefônica. Eis que o enquadramento ficou perfeito! Imediatamente iniciamos as gravações que foram realizadas em apenas 20 minutos. Afinal, nem tínhamos tempo para refazê-las. Depois que tudo terminou, fizemos um leilão da lista telefônica que o Bill Gates sentou em cima.

Pedro Moreira Salles, o dono do Unibanco, quando viu o comercial, exclamou:
- Nossa, onde vocês arrumaram um cara igualzinho o Bill Gates?
- É o próprio!
- É a primeira e talvez a última vez que ele faz um comercial - respondemos com satisfação.
Alguns dias depois, exatamente como eu havia mentalizado, estava eufórico com a TV ligada no programa Fantástico com toda a família reunida para assistir ao tão esperado comercial com o Bill Gates que iria tornar-se num dos cases de marketing mais comentados do mercado. O projeto foi o maior sucesso a ponto de chamar a atenção do mais importante jornal de negócios do mundo - The Wall Street Journal - que veio ao Brasil especialmente para fazer uma matéria sobre o nosso projeto que foi considerado inédito no mundo.

Meus queridos leitores, não existe nada que seja impossível. Por mais difícil que seja o seu sonho, jamais esmoreça. Se surgir alguém duvidando, lembre-se que é um anjo disfarçado que veio testar sua convicção. Devemos inspirar na famosa frase de Roosevelt que disse: - “É muito melhor arriscar-se em coisas grandiosas em busca da vitória e da glória, mesmo estando sujeito a eventuais derrotas, do que formar fila com os pobres de espírito que vivem na penumbra cinzenda da vida, que não conhecem derrotas e tampouco vitórias”. Muito obrigado!